sexta-feira, novembro 29, 2013

O velho

“Ge...ge...ge...”, repetia o velho como se essa fosse sua risada. O som atravessava, aos tropeços, suas gengivas sem dentes e saia para o mundo por um rasgo imenso que quase sempre esboçava um sorriso.

 - Chapéu de palha. Roupa de algodão cru encardido. Tez canela. Traços caboclos. Banco de madeira. Beira de estrada. Tempo dilatado. Sol quente. Sombra de árvore.

“Bafação!”, comentou com o vira-lata ao seu lado. O cão só olhou pra cima, sem se mexer, desmilinguido com o calor. A cada hora, o bicho se encolhia um pouco mais, tentando aproveitar ao máximo as sombras do homem e da árvore projetadas no chão.

13:20, o homem tava lá. 13:21, o homem tava lá. 13:22, o homem tava lá. 13:23, o homem tava lá. 13:24, o homem levantou. Atravessou a estrada lentamente, parou no meio dela, prestou atenção nos cheiros que lhe chegavam nos dentros, continuou. Passo a passo, alcançou o outro lado.

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