sábado, junho 25, 2011

Terceira Margem

Ergui o fio da sanidade
com as mãos
e dancei entre os dois lados

uma dança sóbria,
uma dança fúnebre

levei o cordão aos dentes
e o parti com força

soltei um grito
que me feriu
a garganta

não há mais limite

como uma barragem
que se arrebenta
sou tomado por euforia

estar louco
ceder aos apelos da irracionalidade
é como ser invadido
por uma animalidade primeva

agora
posso
jogar
o jogo
que quiser

segunda-feira, junho 13, 2011

Sentir o Mundo

O menino parou de sentir o mundo. Que a amiga não sentia. E pra ser igual, foi deixando de sentir. Quando via uma borboleta, apontava feliz: uma borboleta! E a outra dizia: o que é que tem a borboleta? Elas estão sempre por aí. Por que é que você gosta tanto de borboletas? Meu pai é como você, não sei o que ele vê nessas borboletas. E o menino escondia o sorriso e olhava para baixo e dizia "é", baixinho. 

O mesmo aconteceu com os pássaros, as nuvens com formas engraçadas, as figuras desenhadas nos azelujos, o nascer e o por do sol, as flores na primavera. O menino foi parando de comentar com a menina o que sentia, guardava para si essas exclamações de quando percebia a poesia do mundo. 

Depois de um tempo, convivendo dia a dia com ela, só esconder os alumbramentos não bastava, ele começou a se policiar para não ter mais exclamações. Queria sentir na mesma passada que ela. Ele só não sabia que, na verdade, ela não sentia. Nada. Com uma frieza realista e regelante.

O menino foi parando, pouco a pouco, de sentir o mundo. 

Ao mesmo tempo, a menina - que até então se defendia de quase tudo o que vinha de fora dela mesma - começou a descobrir jeitos de ver beleza que antes não conhecia. As exclamações vinham agora nela. O garoto ficou sem entender nada. 

Os dois estavam distantes. No de repente de uma rachadura tectônica, tomaram caminhos diferentes.

Desde então, o contato entre eles foi pouco. Foram se transformar um sem o outro a partir do ponto narrado aqui. Ele com as exclamações domadas, procurando alguém pra lhe dar a mão e voltar a sentir. Ela com as novas exclamações, experimentando um mundo que nunca tinha sentido.

domingo, junho 12, 2011

Na velocidade do silêncio
eu
dizia que a amava.

Sentimento lá tem palavra?