domingo, julho 17, 2011

Na Espanha, em 1937.

Foram até as barricadas e encontraram um punhado de mortos. A Frente Nacionalista tinha acabado com todos. Sobrou apenas um burro, daqueles bem atarracados, que carregam, pacientes, armas e provisões. Só não fugiu porque estava amarrado em um galho próximo. Estebán segurou o choro e tirou um caderno de bolso. Eu tinha preparado um poema para este momento, disse. E começou a ler com voz alta. Os outros olharam para os lados, com medo de que os inimigos ainda estivessem por ali e se atraíssem pelo barulho. Mas as palavras lacrimosas do amigo comoveram a todos. John tirou uma garrafa daquela cachaça amarga que nos distribuíam e fez chegar a cada um. Finalmente relaxamos, como não fazíamos há dias. Naquele momento, a despreocupação era tanta, que se morrêssemos, íamos com a pura paz. Após terminar, Estebán começou a ler seu texto novamente. Agora, alguns de nós podiam fazer coro em uma ou outra parte já decorada. Na terceira vez, era quase um uníssono que rasgava o céu limpo e quente daquela tarde sangrenta.

Estes combatentes, agora não mais do que pedaços,
Eram nossos amigos, vizinhos, irmãos, pais.
Acreditavam para o homem a Liberdade dos sanhaçus
Saíram de casa para buscá-la e dar vida ao ideais.

Sua coragem, vontade de criar existência melhor, não tem medidas
nem em dinheiro, nem em poder, nem em merda qualquer.
Que estes fascistas assassinos caiam com suas mãos encardidas!
O da direita mata pelo direito de matar a quem quiser.

Mas não é por vingança que eu vou respirar até o último segundo...
Será para ver virar verdade este sonho coletivo de transformar mundo.

sábado, julho 16, 2011