terça-feira, dezembro 28, 2010

Saberes/Afetos

Maria ensinava o filhinho a descascar batatas. Cena típica: sentava em uma cadeira de madeira, sem braços, com um avental florido sobre o colo e uma bacia cheia de tubérculos recém-lavados no chão, entre as pernas. À sua esquerda, uma pilha de cascas e, do lado direito, o menino, Amadeu, à beira do fogão, que recebia o vegetal nu e colocava para boiar na panela de pressão. A mãe salientava muito o perigo trazido pela lamina da faca, que poderia machucar seus dedinhos, para que apenas tentasse fazer sob o olhar de adultos. “Cuidado para não perder muita batata, corte bem fininho, mas não tão fino a ponto de quebrar a tira, olhe, bem rente, bem a par com a carninha amarela”, descrevia com carinho. E fazia os gestos e produzia espirais e espirais intermináveis daquele filete marrom. O menino prestava a maior atenção do mundo, como se sua mãe estivesse partilhando um dos grandes segredos da humanidade. E, longe de ser coisa boba de criança, na verdade, ela estava mesmo.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Dalva

Dalva despetalou. Uma a uma. Dalva despetalou.
Os olhares pra Dalva. Ela despetalando.
Quando uma pessoa perde as pétalas assim, em publico, é de causar sensações.
Um riu, dois chorou, três berrava incessante. O quarto estático, sem dar sinal de vida.
E ela lá.
Um pouco acanhada. Mas... Inteiriça. Inteiriça, mas, em partes. Despetalada.