terça-feira, dezembro 28, 2010

Saberes/Afetos

Maria ensinava o filhinho a descascar batatas. Cena típica: sentava em uma cadeira de madeira, sem braços, com um avental florido sobre o colo e uma bacia cheia de tubérculos recém-lavados no chão, entre as pernas. À sua esquerda, uma pilha de cascas e, do lado direito, o menino, Amadeu, à beira do fogão, que recebia o vegetal nu e colocava para boiar na panela de pressão. A mãe salientava muito o perigo trazido pela lamina da faca, que poderia machucar seus dedinhos, para que apenas tentasse fazer sob o olhar de adultos. “Cuidado para não perder muita batata, corte bem fininho, mas não tão fino a ponto de quebrar a tira, olhe, bem rente, bem a par com a carninha amarela”, descrevia com carinho. E fazia os gestos e produzia espirais e espirais intermináveis daquele filete marrom. O menino prestava a maior atenção do mundo, como se sua mãe estivesse partilhando um dos grandes segredos da humanidade. E, longe de ser coisa boba de criança, na verdade, ela estava mesmo.

4 comentários:

  1. Batatas leguminosas que possuem casca marrom têm liberdade poética, eu acho.

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  2. http://www.fotosearch.com.br/PTC107/035542/ :)

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  3. é que as batatas LEGUMINOSAS (faseoláceas; papilionáceas) que possuem casca marrom ainda têm liberdade poética, eu acho.

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  4. Saquei, batata não é legume. Óquei. Obrigado. :)

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